PROGRAMAS CASA DA MATA – LIMITES INVISÍVEIS – fevereiro 2016 a fevereiro 2020

Ao longo destes 4 anos, o projeto Limites Invisíveis foi alvo de monitorização e investigação em diferentes dimensões do desenvolvimento (cognitivas, emocionais, motoras, movimento, saúde) com apelo a diferentes fontes de informação (crianças, pais/EE, educadores, comunidade) e utilização de diferentes técnicas e instrumentos (entrevistas, inquérito por questionário presencial e online, observação, testes estandardizados, captação de vídeos e fotografia).

CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES
Neste período houve 294 participações de crianças, de ambos os sexos (52,4% feminino; 47,6% masculino), com idades entre os 3 e os 6 anos (15,3% 3 anos; 32,3% 4 anos; 45,2% 5 anos e 6,2% 6 anos), de diferentes Jardins de Infância do concelho de Coimbra (22,2% público; 77,8% IPSS ou privado), sendo que algumas crianças participaram nos PCM duas ou mais vezes (1 vez-67%; 2 vezes-29,7%; 3 ou mais vezes – 3,3%), por opção dos pais ou encarregados de educação.

MOTIVOS DE INSCRIÇÃO NOS PCM
O principal motivo que levou os pais/EE a inscreverem o/a seu/sua filho/a no PCM foi a criança poder explorar a natureza (84,3%), desenvolver capacidades motoras, cognitivas, sociais e emocionais (78,7%), brincar na natureza (70,8%), desenvolver a consciência ambiental (66,3%), desenvolver atividades diferentes do jardim-de-infância (62,9%) e aprender na natureza (60,7%).

PERCEÇÃO DOS PAIS SOBRE OS PCM
Os sentimentos mais frequentes experienciados pelos pais ao tomar conhecimento do programa de educação na natureza, bem como no primeiro dia de participação da criança, foram a expetativa, a curiosidade e a felicidade.
No 1º dia de participação da criança no PCM houve um aumento notório de ansiedade e receio dos pais. No entanto, a maioria dos pais assinalou que os sentimentos se foram alterando ao longo das oito semanas de participação da criança, indicando que a ansiedade e o receio diminuíram, dando lugar à tranquilidade e confiança.
Os pais/EE quando questionados sobre a avaliação dos PCM na aprendizagem e no desenvolvimento da criança, 97,8% reconhece o efeito positivo da experiência. Relativamente à avaliação dos efeitos da participação no bem-estar emocional da criança, 95,5% indicou ter sido positivo (dos quais 51,7% assinalou muito positivo).
Os pais reportaram ganhos muito significativos antes e pós PCM em todas as competências avaliadas.

No plano do desenvolvimento socioemocional, os pais percecionaram as crianças, após a frequência do PCM, como tendo menos dificuldades comportamentais quer em sintomas emocionais (como ansiedade, tristeza, preocupação, medos) quer em sintomas de hiperatividade.
Os ganhos observados pelos pais antes e após a participação no PCM não só perduram como se expandem após essa participação. Ou seja, os pais consideram que as crianças ganham competências durante essa experiência, que persistem e aumentam quando avaliados em follow-up. Os maiores ganhos em follow-up dizem respeito à autonomia e à interação social-comunicação. Ou seja, os pais veem ganhos diretamente resultantes da experiência da criança no PCM, que percecionam como duráveis e potenciadores do desenvolvimento posterior da criança.
A exceção parece ser em relação ao bem-estar emocional, à partilha de emoções e à consciência ambiental, competências que são muito valorizadas imediatamente após o PCM e se mantêm “estáveis” quando avaliados em follow-up, mas não “progridem”, sugerindo que estes são os aspetos que os pais associam mais estreitamente à experiência concreta nos PCM e que não se expandem noutras experiências ou contextos.

BRINCAR NA NATUREZA
Os pais/EE consideram que o brincar na natureza é muito importante, promovendo diversas competências avaliadas.
Segundo os pais/EE, brincar na natureza acarreta riscos para a criança, no entanto a maioria dos pais considera o risco baixo ou médio.

EFEITOS NA DINÂMICA FAMILIAR NA PERCEÇÃO DOS PAIS
O impacto da experiência na dinâmica familiar traduz-se sobretudo por maior solicitação da criança para saídas ao exterior/natureza, maior recetividade dos pais face a essas solicitações da criança, e aumento de Iniciativa dos próprios pais para atividades no exterior/natureza, e também por um aumento na qualidade do tempo em família, alterações na dinâmica familiar que, na perspetiva dos pais, perduram e se mantêm estáveis no follow-up.

PERCEÇÃO DOS EDUCADORES SOBRE OS PCM
As educadoras dos jardins-de-infância frequentados pelas crianças, reportaram também ganhos para as que frequentaram os PCM. A tendência segue a manifestada pelos pais. As educadoras percecionaram as crianças, após terem frequentado o PCM, como mais empáticas, menos ansiosas, mais colaborativas com adultos e pares. Também o impacto, nível de stresse e sobrecarga que estas dificuldades trazem para os educadores e grupo de crianças demonstra que a passagem das crianças pelo PCM teve impacto nas práticas das educadoras pois as dificuldades emocionais das crianças foram consideradas, por elas, num primeiro momento, como uma sobrecarga.

PERCEÇÃO DAS CRIANÇAS SOBRE A EXPERIÊNCIA PROGRAMA CASA DA MATA (PCM)
A totalidade das crianças referiram que gostaram de estar na Casa da Mata e 85% referiram que foi sempre divertido. O sentimento de felicidade e satisfação foi mencionado por 98,9% das crianças.
No que se refere ao espaço e equipamento da Casa da Mata, 100% das crianças gostaram, das quais 91% gostaram muito e apenas 1% mencionou gostar pouco.
Os espaços referidos como preferidos na Casa da Mata foram: árvores (ou espaços com árvores), cozinha de lama, espaços construídos pelas crianças (o que se torna muito interessante, dado que o jogo construtivo é pouco frequente em contextos de jardim de infância; Figueiredo, 2015), e troncos, de diferentes tamanhos e com diferentes oportunidades de ação (igualmente interessante, dado que os contextos de jardim de infância apresentam poucos materiais naturais nos seus espaços exteriores; Figueiredo 2015). De salientar que algumas crianças identificaram como espaços preferidos “sítios secretos”, o que, segundo a literatura, já pouco é referido, pelo simples motivo de quase não existirem.
Quando questionadas sobre se a experiência vivida na Casa da Mata as tinha ajudado de alguma forma, 83,7% referiu que sim. De salientar que esta questão é difícil, uma vez que exige uma avaliação de uma experiência e a transferência desse conhecimento para outras situações do dia-a-dia das crianças.
Quando questionadas em que medida a CM as tinha ajudado, as respostas foram variadas, podendo agrupar as respostas em 8 grandes categorias, em que as crianças percecionam ter existido desenvolvimento de competências, designadamente: Natureza (conhecimento, sensibilidade, respeito e vontade de interagir com a natureza e que podem mexer na terra e nos bichos), Animais e plantas (conhecimento o que referem como uma mais valia no estudo do meio no 1.º CEB), não ter medo de interagir com, respeitar como seres vivos, fazer silêncio para ouvir os animais), Amizade e Cooperação (fazer novos amigos, não ter vergonha, partilhar com os outros, respeitar os outros), Estratégias diversas (fazer novos amigos, ocupar o tempo na escola lembrando-se do que fazia na Casa da Mata – procurar animais, lama, trepar – e tentando reproduzir no recreio. Descobriram que é possível fazer poças de lama na escola), Brincar (aprender a brincar melhor e ajudar a brincar), Árvores (aprenderam a trepar às árvores e que são capazes), Limites (descobriram a importância dos limites, a parar para pensar e a não fazer algumas coisas), Descoberta e Exploração (curiosidade pela descoberta).
Estes depoimentos foram obtidos nas entrevistas realizadas às crianças, de março a junho de 2019, cuja participação nos PCM ocorreu entre fevereiro de 2016 e novembro de 2018. Durante as entrevistas, grande parte das crianças falaram da experiência com grande emoção e até saudade. À medida que as entrevistas iam evoluindo, as crianças lembravam-se com maior detalhe das vivências, chegando mesmo a falar de pequeninos detalhes.

A Equipa dos Limites Invisíveis